A professora iniciou a aula com uma dinâmica de apresentação do nome. As crianças estavam sentadas em círculo e as placas com o nome distribuídas pelo chão: rosa com os nomes das meninas e azul com os nomes dos meninos. Ao cantar um trecho da música “Se eu fosse um peixinho”, a professora dizia o nome de uma criança que levantava e localizava sua placa no chão, dirigindo-se à mesa.
Na mesa, depois que todos tinham localizado seu nome e estavam de posse da placa, a professora entregou uma caixinha com as letras do nome de cada criança. A tarefa consistia em montar o nome.
Neste momento, a professora convidou os observadores de sua aula para auxiliar as crianças e, portanto, me aproximei do aluno João Victor e do Mateus. Fui observando como eles realizavam a atividade e interagindo com os dois quando necessário.
As duas crianças montaram seu nome com grande facilidade. O Mateus inverteu algumas letras colocando-as de ponta cabeça, mas quando eu mostrei a linha pontilhada, ele conseguiu corrigir.
O João Victor também montou seu nome rapidamente. Solicitei que trocasse sua caixinha com a do Mateus. Quando ele pegou o novo nome para montar, apontou as letras ‘a’ e ‘t’ e me disse que aquelas estavam também no seu nome. Ao término da atividade, eles destrocaram as caixas e montaram o seu nome novamente. Depois do nome montado, disse que meu filho se chama [vitor]. Tirei a letra ‘c’ do meio do nome dele e juntei as demais letras repetindo o nome [vitor]. João Victor olhou, mas imediatamente devolveu a letra ‘c’ a seu devido lugar. Nesse momento, perguntei se ele se chamava [vitor], ou [victor], (relacionando a grafia à pronúncia) e ele respondeu repedindo seu nome [vitor]. De fato o ‘c’ do seu nome gráfico não é pronunciado.
Na seqüência, pedi as letras do nome dele para montar o meu, “Joice”, e como faltava a letra ‘e’, disse que a pediria emprestado do nome do Mateus. Depois de ter montado meu nome, ele olhou, tirou a letra ‘e’ devolvendo-a para o amigo e acrescentou a letra ‘o’ do nome dele, criando a palavra que não existe ‘joico’. Pronunciei esta palavra e ele riu, pois percebeu que ela não existia.
Avaliando a aula
O que me chamou a atenção em primeiro lugar foi a facilidade e a rapidez com que as crianças de quatro anos montaram os nomes. Além disso, a maioria conseguiu encontrar a placa do seu nome no chão.
Em segundo lugar, ao conversar com João Victor notei que ele não aceitou a retirada da letra ‘c’ ao montar o nome do meu filho (Vitor). É como se me dissesse: “só posso escrever esse nome utilizando o ‘c”. Depois de pensar a respeito da relação entre as unidades da oralidade e as da escrita, vejo que ela é imperfeita. Na verdade, nunca acreditei na eficiência dessa relação, mas não tinha argumentos teóricos claros que me auxiliassem. Apenas agora me dou conta que minha interferência pretendia mostrar para ele que existia outra possibilidade de escrever o nome sem a letra ‘c’.
Em terceiro lugar, percebi que o João Victor conseguiu identificar as letras do seu nome que também fazem parte do nome Mateus, sem precisar se apoiar nos nomes das letras. Ele apenas me disse: “essa aqui e essa aqui têm no meu nome”. No entanto, na escola os professores perdem muito tempo ensinando os nomes das letras, como se isto fosse condição necessária para aprender a ler e escrever. É comum os professores afirmarem que seus alunos não aprendem porque não sabem nem nomear as letras.
Por fim, outro fato que me chamou a atenção foi ele não aceitar que eu colocasse a letra do nome do amigo para completar o meu nome. Acredito que ele tenha pensado que sendo o nome sua propriedade, não pode ser misturado aos demais. Por isso ele tentou colocar uma letra do seu nome. Depois ele pegou a letra ‘e’ do nome do amigo e literalmente a jogou para longe.
Joice Ribeiro Machado
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