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26 maio 2013

Reunião de professores coordenadores e diretores de EMEF e EMEFEI com a Professora Stela Miller - UNESP

Já na década de 1930, Vygotski (2000) denunciava: “Até agora, o ensino da escrita é proposto com um sentido prático restrito. Ensina-se à criança a traçar as letras e a formar com elas palavras, mas não se lhe ensina a linguagem escrita.” (p. 183, tradução nossa). Passados mais de setenta anos, esse pensamento ainda se mantém vivo nos corações e mentes de muitos educadores, que, em detrimento da compreensão que o aluno precisa ter da natureza da linguagem escrita, restringem-se ao ensino dos mecanismos pelos quais são feitas as combinações de letras permitidas pelo código de representação escrito de nossa língua, e com elas as palavras, as orações e, por último, os textos. Tudo isso é feito como se o texto, tido nesse contexto como ponto último da escala de aprendizagem da língua materna, fosse apenas o resultado de uma somatória das parcelas incluídas na sequência indicada. O código é o foco; a linguagem escrita fica à margem desse processo. A língua, como um sistema fechado de normas e regras, é apenas uma parte dessa aprendizagem; para além disso, está a exigência de que o aluno aprenda a forma pela qual esse sistema é utilizado para ele interagir com as outras pessoas, comunicar-se, expressar-se, marcar posições frente às demandas sociais, enfim, constituir-se como sujeito no processo de interação com o outro em seu espaço social de vida. 
Para explicitarmos essa questão, partimos do entendimento de que a linguagem é um instrumento de interação entre as pessoas, não importando qual seja a natureza desse instrumento — os signos verbais, as representações pictóricas, a música, as cores, as formas, os gestos, etc. O uso de qualquer um desses instrumentos em um processo interativo transforma as pessoas envolvidas em sujeitos históricos, que se influenciam reciprocamente no contexto das relações sociais das quais participam. Tal processo pode acontecer no nível das relações diretas, face a face entre os agentes da interação, ou de forma distanciada, tanto no tempo como no espaço, fazendo-se, para cada situação interativa, o necessário ajuste dos instrumentos.
Especificamente falando em linguagem escrita, a interação supõe um distanciamento entre sujeitos, uma vez que o processo de produção se faz, via de regra, em espaços e tempos diferentes daqueles que caracterizam o processo de recepção. Isso posto, compreendemos que, embora não haja contemporaneidade entre as ações dos sujeitos, a interlocução acontece no exato momento em que se encontram leitor e autor, intermediados pelos textos organizados em diferentes gêneros textuais, marcados por diferentes registros e veiculados por meio de distintos suportes escritos que são produzidos ao longo da história. 
Aprender a linguagem escrita supõe, então, dominar esse processo de interlocução, marcado pelo contexto sócio-histórico, cujo produto — o texto — cumpre uma função social e se organiza linguisticamente conforme exigências que lhe são próprias. Segundo Orlandi (1988), para que o aluno não seja apenas um enunciador de discursos alheios, mas um sujeito autor, é necessário ele “possa experimentar práticas que façam com que ele tenha o controle dos mecanismos com os quais está lidando quando escreve” (p.80). E isso vai muito além do aprendizado de regras e normas que organizam o sistema da língua, embora o inclua. Stela Miller
Temas abordados:
Teoria Histórico-Cultural
Ensino
Aprendizagem
Linguagem
Escrita 
Produção escrita: projeto para aprender a escrever textos.
Leitura
O trabalho do professor com a leitura
Leitura: um questionamento de textos
Alfabetização
Arquivo utilizado:
Vídeo indicado:

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