Cultura é um conjunto de ações que exprime a identidade de um povo, assim, manter o foco na expressão é abrir caminho para manifestações do intelecto que, em seu exercício constante, se fortalece e possibilita ao indivíduo crescer com autonomia e sentir-se capaz de, junto ao grupo, realizar mudanças criativas em seu meio.
Educar em arte é também atuar com o meio ambiente, transformar o social, resistir ao conformismo e aprender a utilizar os problemas como desafios de superação. Disponibilizar o acesso a diferentes linguagens e materiais, desenvolver técnicas vislumbrando as inúmeras formas que podem ser criadas, Formas essas que refletirão as ânsias, os prazeres, a imaginação e as frustrações de cada grupo ou indivíduo. Formas que possibilitem a descoberta de novas formas e possibilidades para outros projetos. E que não sejam formas pré-definidas pelo professor, pois chegar a um produto final uniforme e igual para todos os indivíduos de um grupo é matar as possibilidades estéticas particulares e reproduzir um modelo opressor de produção mecanizada que não leva em consideração os pluralismos.
Educar é identificar problemas e encontrar saídas estéticas para transformá-los. Pintar os muros da rua quando estes se apresentam deprimentes e criar objetos estranhos quando cansamos de ver as formas padronizadas e “úteis” do mundo adultocêntrico que nos cerca. Provocar deslumbre, deleite, ou estranhamento. É deixar-se influenciar e, assim, compartilhar da expressão do outro. O que é diferente de copiar e “reler” obras de artistas famosos, de preencher espaços em branco ou pintar desenhos pré-prontos. É descobrir as potencialidades de cada indivíduo e explorá-las ao máximo.
Educar em arte pode traduzir um veio de resistência e representatividade social pois, mantém a criança livre para expressar, através de seu corpo, linhas e pinceladas, ideias, sentimentos e capacidades, possibilitando chances de desenvolver sua autonomia, auto-estima e segurança para falar e expressar suas ideias.
Possibilitar meios para criar é aprender que o caos também faz parte do processo de reordenação e que este mesmo processo é cíclico e em constante mutação. Tal compreensão acompanhará a criança pelo resto da vida e mudará sua forma de se relacionar com o mundo, de compreender que a ordem não existe sem o seu oposto e que bem e mal são relativos quando não ferem a liberdade do outro. Que é necessário aceitar o feio se este lhe convém, e renegar o “belo” se este é colocado como um impedimento ao desenvolvimento sensível da expressão.
Buscar uma parceria com os pais e trabalhar de maneira interdisciplinar junto aos projetos desenvolvidos na escola. Ampliar material de referência na área com a montagem de acervo de vídeos, DVDs, músicas, literatura, aparelhos de multimídia e outros que possam ampliar as possibilidades de exploração de outras linguagens dentro do campo das artes.
Assim, respeitar as capacidades da criança e estimulá-la a superar barreiras ressignifica a sua forma de estar no mundo como indivíduo catalizador de mudanças e potencializa o que antes encontrava-se em latência.
Transformar o corpo docente e lhe dar sentidos, confrontar as concepções estéticas televisivas da comunidade e fazer crer que a criança tem uma voz e uma expressão próprias que devem ser respeitadas, fazem parte da luta pela garantia dos direitos de todo cidadão.
BARBOSA, Ana Mae (org.) _ Arte/Educação Contemporânea – Consonâncias Internacionais. Ed. Cortez, 2001.
NACHMANOVITCH, Stephen _ Ser Criativo _ O Poder da Improvisação na vida e na arte, Ed. Summus, São Paulo, 1993.
DELEUZE, Gilles _ Conversações, ed. 34, 2001.
LOWENFELD, V. _ Desenvolvimento da Capacidade Criadora. São Paulo: Atual, 1997.
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