Inclusão de autistas, um direito que agora é lei
Nas últimas semanas, um tema não muito frequente tem tomado as manchetes de jornais e revistas: o autismo. As polêmicas giram em torno da Lei nº 12.764, que institui a "Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista". Sancionada em dezembro do ano passado pela presidente Dilma Rousseff, a medida faz com que os autistas passem a ser considerados oficialmente pessoas com deficiência, tendo direito a todas as políticas de inclusão do país - entre elas, as de Educação.
Pode parecer estranho criar uma lei voltada especificamente ao autismo, sabendo que já existem no Brasil diretrizes gerais para a inclusão. A medida, no entanto, faz sentido. Segundo a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), relatora do substitutivo do projeto que foi aprovado pela Câmara, "por não haver um texto específico que dissesse que os autistas são deficientes, muitos deles não podiam usufruir dos benefícios que já existem na legislação brasileira".
Falando especificamente de Educação, a lei é vista por especialistas como mais um reforço na luta pela inclusão. O texto estabelece que o autista tem direito de estudar em escolas regulares, tanto na Educação Básica quanto no Ensino Profissionalizante, e, se preciso, pode solicitar um acompanhante especializado. Ficam definidas, também, sanções aos gestores que negarem a matrícula a estudantes com deficiência. A punição será de três a 20 salários mínimos e, em caso de reincidência, levará à perda do cargo. "Recusar a matrícula já é algo proibido por lei, a medida reforça isso e estabelece a punição", comenta Mara. Para saber mais: clique aqui
imagem Getty Images: http://bit.ly/XGsudg
Tente imaginar
Imagine…
Imagine se, desde o momento em que você nascesse, cada aspecto do seu ser fosse avaliado e estudado com um olhar crítico. Imagine se quem você é, o jeito que você fala, se move ou se comporta fosse visto como errado e precisando de conserto. Imagine se, desde muito cedo, as pessoas falassem sobre você, na sua frente, como se você não pudesse ouvi-las. Imagine se, mesmo sem entender tudo, você entendesse as emoções por trás das palavras, o desapontamento, o medo, a raiva, mas você não tivesse ideia do porquê. Imagine como isso te faria sentir. Agora, imagine como você se sentiria se entendesse cada palavra dita, mas não pudesse falar ou fazer os outros saberem que você entendia. Imagine como você se sentiria se crescesse acreditando que a sua existência causava aos outros desconforto, dor e tristeza.
Imagine se, quando criança, você fosse agredido pela luz, pelo toque, cheiros e gostos – coisas que não causam dor às outras pessoas, mas que fariam sua vida quase insuportável. Imagine se você, também, pudesse sentir intensamente a energia das pessoas, mas ficasse frequentemente confuso e sobrecarregado por esses sentimentos. Imagine se, quando você chorasse de angústia, você fosse recebido com raiva ou te fosse dito que nada estava errado e que parasse de se comportar dessa forma. Imagine como você se sentiria se, depois de, finalmente, achar as palavras certas e as falar, as pessoas te entendessem mal, ficassem bravas ou te falassem que o tom que você usou foi inapropriado ou o volume que você falou foi muito alto ou muito baixo. Imagine se tentasse com todas as suas forças falar como te ensinaram, mas não importa o quanto tentasse, você nunca parecesse acertar. Imagine como isso seria.
Tente imaginar como se sentiria se você juntasse muita coragem para se aproximar de outro ser humano só para ser evitado, zoado ou mandado embora. Imagine como seria se quisesse ter amigos e brincar de encontros e dormir fora, mas você não tivesse nenhum. Imagine se tentasse fazer amigos, mas não importa o quanto você tentasse, nenhum quisesse passar tempo com você, e você não soubesse o porquê. E se as suas tentativas de parecer amigável fossem vistas como atos de hostilidade? E se você batesse no ombro de alguém – porque viu amigos fazerem isso e eles sempre riam mas, quando você o fizesse, você fosse levado para a sala do diretor, advertido e ameaçado de expulsão? Como isso te faria sentir? E como seria se você se juntasse a uma roda de conversa, mas no minuto em que você dissesse algo, todos parassem de falar e olhassem pra você com cara de surpresa, ou pior, incômodo ou até raiva? Como isso te faria sentir?
Tente imaginar como seria se as coisas que te trazem alegria fossem ridicularizadas ou tiradas de você. Imagine se você adorasse pular, porque esse movimento te fazia sentir feliz e calmo, mas se você desse pulos, você fosse punido. Apenas imagine como seria se as coisas que você acha fascinantes virassem piada para os outros ou fossem vistas como estranhas. Agora, imagine se você fosse incapaz de fazer as palavras se formarem na sua boca para que você pudesse dizer qualquer coisa para explicar ou protestar. Ou imagine se você pudesse falar, mas quando você falasse, suas palavras parecessem aborrecer as pessoas e você fosse punido. Como você se sentiria se as pessoas que têm poder sobre você te dissessem que iriam te internar se você não se comportasse, e você nem se lembrasse como é que devia se comportar? Tome um momento para realmente imaginar como se sentiria. Imagine como deve ser precisar de ajuda, ter que depender das pessoas e essas pessoas te machucarem, te traírem e ficarem bravas com você.
Imagine como você se sentiria se os experts falassem da sua neurologia como deficiente. Imagine como seria se te dissessem que você é incapaz de sentir emoções e não pode entender seus colegas humanos. E, quando você discordasse, as pessoas dissessem que era impossível ter uma conversa “racional” com você. E, quando você descrevesse o quão doloroso era olhar nos olhos das pessoas – porque era como olhar dentro de suas almas - , e que isso era muito pesado e você não podia mais ouvir o que elas estavam dizendo, ou que quando as pessoas te abraçavam, isso fazia sua pele formigar, ou que o cheiro que emanava de outra pessoa era tão forte que você se sentia mal, você fosse acusado de ser manipulador e as pessoas te exigissem fazer isso de qualquer forma. Imagine como você se sentiria se essas mesmas pessoas dissessem que você era difícil e grosseiro quando você as confrontasse com sua própria insensibilidade. Apenas imagine como você se sentiria se você lesse e ouvisse pessoas que nunca te conheceram dizerem como pessoas como você são violentas e devem ser temidas, mesmo que a única pessoa que você já tenha machucado seja você mesmo. Imagine como seria ser dispensado e silenciado várias vezes em seguida. Apenas tente imaginar como deve ser isso.
Tente.
Tente imaginar o que é ser autista. Fonte
Mais do que leis, é preciso mudar a cultura da escola
"Leis não vão resolver nada, a menos que existam ações voltadas à capacitação do professor e à mudança da escola", defende Rossana. É preciso rever a formação de modo a ajudar os docentes a lidar com as limitações e as dificuldades de cada aluno, com ou sem necessidades especiais. "A consciência é o que nos ajuda a incluir, e só se chega a ela por meio do conhecimento", explica a especialista.
É preciso, então, criar uma rede de apoio em que o professor da turma regular, o profissional do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e o coordenador pedagógico atuem em conjunto. Há que se mobilizar, também, diretores, funcionários, pais e alunos, de modo a envolvê-los em um projeto de escola inclusiva, na qual as diferenças são respeitadas e utilizadas em prol da aprendizagem.
Para que a inclusão ocorra, portanto, é preciso mais do que a aprovação de uma lei. Deve-se rever as políticas públicas atuais de modo a garantir aos educadores os conhecimentos, o tempo e a formação necessária para que os alunos não só sejam matriculados, mas também tenham garantido seu direito de aprender.
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As escolas que se interessarem pelo tema da palestra ou outro relacionado a inclusão, favor entrar em contato com a equipe do CAP - Coordenadoria de Apoio Psicopedagógico da SME.
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