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03 outubro 2013

Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa - Por Fabiana Rodrigues Cruvinel

"A atitude das crianças de acordo com a metodologia adotada revelou que esse pressuposto metodológico não contribui para o ensino da leitura da maneira como essa atividade se manifesta na sociedade atual. Portanto, em conclusão, as crianças, e não apenas os teóricos e pesquisadores que participaram desse estudo, me levam a pontuar alguns caminhos no processo de escolarização, para favorecer o processo de formação de leitores, superando o desencontro entre um e outro: 
• Repensar a concepção do ler que orienta a organização metodológica do ensino dessa atividade na escola. Qual a razão de se criar na escola um conceito de ler como processo de decodificação ou de oralização, se nas relações sociais a leitura não se objetiva como tal? As próprias crianças indicaram que aprender apenas a decodificar não é aprender a ler. 
• Considerar o ensino do sistema alfabético de escrita como parte do processo de ensino da linguagem escrita, não como ponto de chegada nem como ponto de partida. Vale retomar as muitas situações de inquietação vivenciadas com as crianças no decorrer do estudo etnográfico como, por exemplo, o trabalho com a família silábica da letra q. A escola, na tentativa de facilitar quando ensina o sistema linguístico de forma alheia ao seu uso, à sua manifestação na língua como artefato vivo, dinâmico e de significação, acaba por dificultar a compreensão da lógica de seu funcionamento. 
• Considerar que ensinar a ler a partir de textos não torna o aprendizado mais significativo se este não for visto como objeto de interlocução, inserido numa atividade em que as crianças possam dialogar, interagir, manifestar-se em relação ao escrito como coenunciadores, de modo que possam gerar uma atitude responsiva diante dele produzindo seus próprios discursos. As crianças, desse modo, têm a oportunidade de formular suas próprias perguntas e respostas, constituindo-se como atores do processo.
• Considerar, portanto, que não basta, no processo de formação de leitores, levar para a sala de aula uma diversidade de gêneros textuais e estudá-los do ponto de vista normativo. Fazer uso dos gêneros como instrumentos para ensinar a ler é abordá-los a partir de situações de comunicação efetiva que implica interação, diálogo, interlocução entre crianças, professor e texto. Assim, ensinar a ler a partir dos gêneros não é isolá-los da situação de comunicação, como objeto didático, mas considerá-los como meio de apreender a realidade, já que o gênero estabelece uma conexão da linguagem com a vida social. 
• Que o professor no desenvolvimento das propostas de ensino do ler esteja disponível para exercer o papel de mediador e interlocutor das crianças com o mundo da linguagem escrita; que ensine com os leitores aprendizes e não para os leitores aprendizes, que dialogue com todos e não com alguns, que ouça e fale com as crianças considerando seus conhecimentos prévios, suas perguntas, suas próprias elaborações no momento de realização das atividades com o ler em aula.
• Ensinar a ler sem que as crianças percam o interesse por essa atividade pode ser possível se a escola conduzir ensino na perspectiva anunciada pelas crianças, como uma prática cultural que não se reduz a um processo simplificado de domínio das relações grafema fonema. 
Contudo, sob o olhar das crianças, é hora de substituir o paradigma do aprender a ler para ler pelo aprender a ler lendo em busca de sentido. O ler como objeto cultural há de conquistar seu espaço no contexto escolar. Penso ser esse o desafio na tarefa de formar leitores".
Atividades do Pacto:

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